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sábado, 26 de julho de 2014

Pai da sociobiologia, Edward O. Wilson lança A Conquista Social da Terra




Conrado Carlos
Editor de Cultura
Encaixar um livro de sociobiologia, escrito por um especialista em formigas no tempo escasso que você tem para atividades outras que não trabalho e afazeres familiares beira o impossível, não é? Pois, amigo, dê seus pulos, por que esse A Conquista Social da Terra, do americano Edward O. Wilson, tem vários elementos que o transformaram em um clássico sobre a evolução humana – uma nova e polêmica abordagem sobre seleção de grupo e linhagem genética; despertou a ira de cientistas e pesquisadores, inclusive de Richard Dawkins; pela escrita com ares literários; e pelo prólogo arrebatador focado no quadro “De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?”, de Paul Gauguin (capa do livro), concluído em 1897, quando este era devastado pela sífilis no inóspito Taiti, na Polinésia Francesa, onde escolheu morrer.
Em nova abordagem, Wilson, 84 anos, professor de Harvard e vencedor de dois Pulitzer, defende que a seleção de grupo, através do altruísmo e da união, em interseção com o meio geográfico, é mais importante que a família na manutenção da linhagem genética. Um recuo no tempo começa a explicar o que nos difere das outras espécies (Darwin é onipresente em sua tese). “Já bastam macacos, você poderia alegar, mas insetos?”, pergunta O Pai da Sociobiologia, em certa altura. O cérebro humano teria virado inteligente e social entre 10 mil e 30 mil anos atrás, por relações que envolveram o já citado altruísmo, bem como a cooperação, a competição, o domínio e a fraude. Hominídeos teriam apresentado uma evolução diferente (musculatura proporcional, membros articulados e mais flexíveis, facilidade de adaptação climática, etc) através de alianças baseadas na inteligência e na memória.
A ‘revolução bípede’ ganha capítulo especial, com uma viagem por continentes que serviram de rota para o homo erectus – das savanas africanas, sobretudo onde hoje fica a Etiópia, nosso ancestral partiu para lugares distintos, como a Austrália e a Eurásia. Até então, abelhas, cupins e formigas tinham os sistemas sociais mais complexos da terra. Mas o fogo e a carne vermelha mudaram tudo. Veganos e vegetarianos ficariam injuriados com a defesa que ele faz da ingestão de tecido muscular de animais no processo de socialização (só em grupo era possível caçar), com desdobramentos positivos sobre táticas de proteção coletiva e avanços tecnológicos. “Se o benefício da participação no grupo for menor que o da vida solitária, a evolução favorecerá a partida do indivíduo ou a trapaça”. A afirmativa estampa um dos últimos prognósticos involuntários do livro: sem ética, razão e respeito, ainda causaremos muitos danos a nós mesmos.
Tanto que ele investe parte de sua tese no capítulo “A Guerra como a maldição hereditária da humanidade”. Enquanto o grupo ajuda na segurança dos indivíduos, quem está fora dela vira inimigo, estranho ou marginal (como nas torcidas de futebol, exemplo explorado por Wilson). E nessa manifestação, religiões exercem papel preponderante, tendo em vista a categorização humana empreendida. Conflitos em massa desrespeitam época, cultura, sexo, geografia, biologia. Por outro lado, são responsáveis por algumas das maiores evoluções científicas. Isso tudo nos deixou com traços únicos entre as espécies animais (o Estado seria o ponto máximo). É desse caldeirão de variantes que Edward O. Wilson compôs uma obra fascinante, tanto para leigos, como para iniciados.
Fonte:http://jornaldehoje.com.br/pai-da-sociobiologia-edward-o-wilson-lanca-conquista-social-da-terra/

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